Escolas de Sabedoria - parte7 - REV2
- Alexei Caio
- 17 de ago. de 2020
- 17 min de leitura
Observações fundamentais para a propagação/divulgação do material nos posts a seguir "Escolas de Sabedoria".
A origem deste material esta inserida numa apresentação em um contexto bem específico.
Por integridade minha faço menção desde contexto e por profunda gratidão à autora.
Fonte: Instituto Nokhooja
As Escolas de Sabedoria são divididas em alguns níveis de organização que levam em consideração o nível de desenvolvimento de seus participantes. Esse nível de desenvolvimento pode ser associado com a terminologia utilizada por Gurdjieff acerca da Tipologia dos Seres Humanos, terminologia esta bastante utilizada atualmente e ampliada pelos estudos de Oscar Ichazo, Claudio Naranjo e outros.
O estudo dos Tipos de seres humanos é bastante antigo e baseia-se, de forma geral, na tentativa de agrupa-los em categorias segundo algumas características básicas. Existem muitas formas de agrupamento, desde o sistema de castas hindu até a terminologia do próprio Timothy Leary com os Oito Circuitos e ainda, C.G.Jung com seus Tipos Psicológicos.
Originalmente, Gurdjieff referia-se ao homem como sendo um ser tri-cerebrado. Cada "cérebro" apresentaria uma ênfase sobre a parte motora, emocional ou intelectual. Existiria sempre uma tendência de um dos "cérebros" predominar sobre os outros dois e disso se originavam os três tipos básicos de homens. Havia porém, um quarto tipo, relacionado com o homem que escolhe o Trabalho. Este era o chamado homem no 4. É desta terminologia que surge o conceito do Quarto Caminho.
O homem no 1 seria levado a escolher, por causa de suas tendências, o "caminho do faquir", o no 2, o "caminho do monge" e o no 3 o "caminho do iogue". O homem no 4 seria o que buscaria equilibrar suas tendências extremadas e para isso escolhe o Quarto Caminho.
Na década de 70, Ichazo ampliou essa Tipologia para relaciona-la com o Eneagrama, baseando-se na "característica principal" dos seres humanos. Esse termo é bastante comum nos trabalhos de Gurdjieff e ele definia essa característica como sendo algo bastante enraizado e que determina o indivíduo a se envolver sempre nos mesmos processos, de forma bastante mecânica. Ele dizia que era sumamente importante descobrir qual era a "característica principal" pessoal pois essa descoberta resultaria num "aumento de consciência". Era também nesse contexto, que Gurdjieff usava o famoso "Brinde dos Idiotas", uma técnica que permitia ao indivíduo ser exposto à sua característica principal sem que houvesse uma reação defensiva exacerbada do Centro Motor. Parece que foram definidas 21 categorias de Idiotas desde o "Idiota Ordinário" até o "Idiota Divino". E é interessante notar que, embora pareça uma terminologia ofensiva, os seres que fazem parte destas categorias estariam acima da massa dos seres humanos adormecidos, pois em seu caminho dentro do Trabalho podiam apresentar atitudes corretas ou idiotas, diferente da massa que apenas reage mecanicamente.
Dentro das discussões relacionadas com as Escolas de Sabedoria, costuma-se definir 12 categorias de Tipicalidades. Como existe algum material sobre o conceito de Tipicalidades apresentaremos aqui apenas um breve resumo da idéia geral destas categorias, relacionando-o com a formação dos participantes de uma Escola.
Como dissemos no início deste trabalho, as Escolas têm por objetivo permitir com que o Criador se expresse plenamente em todos os níveis da Criação, servindo e colaborando para que cada nível mantenha sua dinâmica própria de equilibro energético, assim como o seu pleno potencial consciente de realização, promovendo por fim o retorno do Absoluto - e do Conhecimento - a Ele mesmo.
Uma Escola se desenvolve a partir de indivíduos (os seres humanos transformados) ou de idéias específicas (objetivos) que lhe dão sustentação e que irão compor o seu currículo e processo de formação. Elas atuam sempre em dois níveis, num primeiro momento visando a formação de mestres que virão formar o conjunto de disciplinas e conhecimento com o qual ela irá tratar, podendo num segundo momento (ou paralelamente) ser também uma Escola de discípulos no sentido de desenvolver uma área específica e atuar nos objetivos determinados pelo conjunto dos mestres que a compõem.
Nesse sentido uma Escola é formada por mestres que tiveram em algum momento o treinamento (Trabalho) necessário para tal. Diz-se que uma Escola nasce no núcleo essencial do Trabalho. Nesse contexto pode-se dizer que o Trabalho não é uma Escola, mas que uma Escola é o próprio Trabalho atuando.
O desenvolvimento de uma Escola se dá em quatro níveis:
Exotérico, Esotérico, Mesotérico e Isotérico.
Dizemos que é apenas no quarto nível (isotérico) que ela realmente passa a existir ou é gerada.
O nível exotérico é aquele formado pelo 'mundo das confusões' ou da 'torre de babel'. Neste nível a Escola irá atuar no sentido de permitir com que suas primeiras idéias e conceitos venham a ser conhecidas pelo conjunto da sociedade onde ela se situa e interage. Esta etapa se caracteriza por estabelecer um equilíbrio entre as partes física, emocional e intelectual das pessoas envolvidas, ou seja, essa etapa corresponde à harmonização do Centro Motor. É o momento onde se direciona o indivíduo a atuar e refletir sobre os conteúdos que transcendem sua experiência puramente pessoal. É o momento onde se induz o indivíduo a se sensibilizar a um movimento e desejo internos, passando nessa fase por exercícios e técnicas que o propiciam a adquirir uma linguagem comum.
No nível exotérico trabalha-se com conteúdos que estão fora da experiência pessoal. É uma fase onde o indivíduo aprende o que é presença, o que é auto-observação, faz Movimentos, exercícios respiratórios e adquire o conhecimento básico de toda a terminologia do Trabalho. Mas isso é uma coisa que ele passivamente aceita, vem de fora para ele. Ele ainda não tem elementos para julgar a validade ou não de um exercício respiratório ou da técnica de presença; ele não tem ainda elementos internos; por isso este nível é chamado de exotérico. O indivíduo é conduzido a trabalhar um conjunto de elementos que são externos, que não fazem parte de sua trajetória. E ao mesmo tempo é externo porque a pessoa envolvida não pode desenvolver isso por decisão própria. Ela tem que ser exposta a esses elementos a partir da utilização de uma técnica definida, e de um processo que tenha uma certa direção.
Geralmente são definidos três tipos básicos de seres humanos: os que apresentam uma preponderância dos aspectos físicos (homem número 1), ou uma preponderância dos aspectos emocionais (homem número 2) ou dos aspectos intelectuais (número 3). Quando essas características são por demais limitadoras de tal forma que o indivíduo em questão não consegue se libertar delas e nem experimentar uma transição entre essas características, temos os homens chamados de -1 ("menos 1"), -2 e -3. Em termos da correspondência da terminologia de Gurdjieff com a dos circuitos de Timothy Leary, dizemos que essas tipicalidades correspondem aos aspectos do primeiro circuito, ou da bio-sobrevivência (homens número 1 e -1), do segundo circuito, ou territorialidade (homens número 2 e -2) e do terceiro circuito, o semântico (homens números 3 e -3).
O homem número 1 não apresenta apenas as características que geralmente o descrevem como alguém mais ligado a vida sensorial e física, que gosta de fazer exercícios físicos, geralmente mais obeso ou corpulento, e que come e fala muito. O homem número 1 não se reduz a isso. Na realidade todos nós contemos em nossa estrutura de personalidade o homem número 1, na medida em que temos que suprir problemas de primeiro circuito: a sobrevivência, a capacidade de vencer o medo e as dificuldades, a busca pelo máximo de conforto possível, etc.. E essa busca existe em todos os seres humanos, qualquer que seja a classe social e cultura enfocada.
Na medida em que o indivíduo não é capaz de resolver os problemas relacionados à bio-sobrevivência, ou seja, ele é obrigado a enfrentar problemas básicos como não ter o que comer, onde morar, ter o mínimo de conforto, descansar, menos chances esse indivíduo terá para se preocupar com educação, estética, divertimento, conhecimento, etc.. Então à medida em que as condições pioram e os indivíduos são empurrados cada vez mais a se preocuparem com a bio-sobrevivência, nós chamamos a este indivíduo de "homem menos um (-1)". "Menos um" significa que esses indivíduos estão vivendo uma dimensão de consciência de bio-sobrevivência, eles estão preocupados apenas com isso. Notem que esta não é apenas a situação de um homem vivendo à margem da sociedade mas também a de um homem preocupado exclusivamente com os negócios e que vive preocupado com manter seu estatus na sociedade e garantir sua sobrevivência. Este é também um homem menos um.
A outra dimensão que se superpõe à esta envolve jogos de poder, jogos emocionais, todas as situações que envolvem hierarquia, domínio e controle. Tipicamente é associada com a imagem do militar, quer dizer, estruturas hierárquicas, poder, autoridade, etc.. Este nível corresponde ao segundo circuito de Leary e ao homem número dois, que quando preso nisso, temos então a dimensão do homem menos dois (-2).
Finalmente, existe uma terceira camada de indivíduos que são, eminentemente, ligados às idéias, intelectualidade, cultura, educação e correspondem às pessoas que, de uma certa maneira, não estão presas excessivamente às questões da sobrevivência ou aos jogos de poder, mas que valorizam muito os jogos mentais, o material escrito, a Internet e coisas desse tipo. Esses são chamados de homens número três. Quando essa dimensão assume uma característica de quase possessão, definimos então uma conotação negativa. Estes são os indivíduos que tentam reduzir tudo ou todas as suas experiências para o nível do intelecto (homem -3).
Para os homens número -3 é muito fácil perceber a dimensão dos homens menos um e menos dois; geralmente, eles criticam suas posturas, mas nem sempre são capazes de perceber que estão reduzindo tudo a um conceito, a um conjunto de idéias básicas intelectuais, e essa é justamente a característica básica do homem número menos três (-3). Esse é o ponto crucial e corresponde ao terceiro circuito de T. Leary, o semântico, e que diz respeito à aquisição das capacidades culturais, da linguagem, etc.. Assume um caráter negativo (-3), porque para os indivíduos desse tipo tudo se resume numa tentativa de interpretar a realidade em termos de modelos intelectuais, e raramente esses indivíduos questionam ou aceitam questionamentos e geralmente como são bem treinados, têm sempre algum tipo de argumento que justamente, acaba por consolidar a prisão em que estão vivendo.
Assim, embora exista uma evolução natural dos homens número 1, 2, 3, quando as pessoas ficam presas nos aspectos específicos de um determinado nível (seja qual for), isso passa a ser considerado como negativo (-1, -2, -3).
Uma outra categoria de ser humano definida pelas Escolas do Trabalho diz respeito ao chamado homem número zero. Este indivíduo apresenta como característica básica uma relativa harmonia entre todos os centros e subcentros do andar inferior da máquina. Ele geralmente é reconhecido como sendo alguém que pertence ao Trabalho naturalmente, sem nunca ter lido nada ou ter tido qualquer forma de contato com as técnicas e materiais utilizados. Porém, mesmo este tipo de ser humano se deixado fora do contato de uma Escola, raramente encontrará chances de continuar seu processo evolutivo.
Assim, as Escolas existem justamente, para tentar fazer com que os indivíduos retomem a sua evolução. A idéia básica é que o ser humano passa por um período de bio-sobrevivência, depois por um período de jogos de poder, passa por um período de formulação de modelos intelectuais e a partir daí ele evolui em direção a alguma coisa a mais. As Escolas existem para permitir isso, para criar tecnologias precisas que venham a atuar nas condições sempre em mutação do mundo da confusão de línguas, a realidade caótica.
Nesta fase chamada então de exotérica, é imprescindível que os indivíduos que estão em treinamento testem as informações que estão sendo oferecidas.
Algumas pessoas raramente se colocam num contexto de se questionar ou verificar o que está acontecendo. Qualquer indivíduo, seja o que aceita ou não o conjunto de idéias e experiências oriundos da Escola, quando entra no nível exotérico, terá que começar a desenvolver uma atitude que é crucial. Ele deve testar aquilo que está sendo colocado. Se ele testar, chegará a algumas conclusões muito interessantes. Primeiro: ele poderá sentir que aquilo não lhe serve, e então ele terá a chance de ir em busca de outro tipo de técnica ou informação. Segundo: ele testa e sente que aquilo lhe é útil; a partir disso ele poderá incorporar a informação ou técnica que lhe está sendo oferecida e continuar seu processo de aprendizado.
O que deve ser evitado é não testar ou partir do pressuposto de que aquilo não serve. Isto é uma forma de rejeição que acaba por impedir que haja qualquer tipo de aprendizado. E ainda, esses indivíduos, mesmo participando da Escola, poderão apresentar um comportamento onde mesmo quando eles acham que testam as propostas, na realidade, eles inferem os resultados para suas pseudo-experiências. São pessoas que geralmente, ou repetem muito as suas experiências e de certa forma, adequam seus pseudo-resultados àquilo que elas julgam que é o esperado ou então elas simplesmente nem chegam a testar objetivamente a proposta e imaginam qual seria o resultado provável; elas não estão realmente abertas para uma real transformação. E existe ainda um segmento mais extremo, onde as pessoas acreditam por acreditar, porque nunca se deram ao trabalho de testar, então elas acabam gerando uma situação de um tipo enganoso de fé, enganoso porque é vazio, uma vez que não está fundamentado em uma real experimentação e constatação. No Trabalho essa postura é considerada como uma grande ingenuidade.
Há ainda, indivíduos que testam e têm resultados tão paradoxais, tão estranhos, que na realidade eles terão que ser avaliados no sentido de se verificar se têm ou não potenciais para o Trabalho. É o caso onde a partir de uma proposta objetiva de exercício, por exemplo, o indivíduo extrapola demais e acaba tendo resultados completamente estranhos à proposta.
O segundo nível é chamado de nível mesotérico e exige do indivíduo uma coerência interna e uma disponibilidade para dar um salto qualitativo. É nesse momento que o indivíduo deixa de trabalhar passivamente (testando e experimentando técnicas e metodologias apresentadas), e torna-se membro de um grupo - aqui entende-se o grupo como sendo o pleno florescimento da capacidade de interagir e trabalhar em conjunto. Essa é a fase das experiências, nas quais os relatos e a objetividade destes são postos à prova. Dessa interação é que surgem os acordos e acertos entre as 'personalidades' que fazem parte do grupo, e também a formação de uma identidade (personalidade) grupal - qualquer que seja ela.
Este nível permite com que as pessoas desenvolvam os seus limites e dons naturais da máquina. Ela será induzida a exercer de uma eficiência maior enquanto máquina, mas não em sua máxima desenvoltura para não permitir que a máquina aperfeiçoada seja um elemento de entrave no trabalho individual em direção ao Absoluto. Desenvolvem-se aqui os exercícios individuais e técnicas coletivas de trabalho em grupo que venham a dar substrato à evolução interna do indivíduo e à sua comunicação experiencial e sensível com o grupo, preparando-o para um novo salto de qualidade e de inserção na Escola. O Trabalho conduz, nesse nível, os participantes a um aperfeiçoamento da máquina visando justamente, libertar-se dela.
Esta etapa corresponde a potencialização do Centro Motor e seu processo de economia de energia no sentido de permitir o trabalho sobre os Centros Superiores. Devido ao fato do Centro Motor estar funcionando de forma mais harmônica, começa a existir uma certa disponibilidade de energia. Essa energia pode ser direcionada para os Centros Superiores no sentido de desenvolvê-los e educá-los. É por isso que nessa fase as Escolas podem vir a introduzir as técnicas de trabalho com o Centro Emocional Superior, que se caracteriza pelas emoções geradas voluntária e conscientemente, em contraposição às emoções mecânicas e reativas. Esta fase é caracterizada pelos homens números 4, 5 e 6.
No nível esotérico, o homem adquire uma percepção objetiva de si, de seus núcleos de personalidade e de seus processos internos, e de como eles são refletidos em si mesmo e no próprio grupo. Este momento é reconhecido por ser um momento de crise, onde os indivíduos, após terem sido expostos à eficiência ou ineficiência da máquina (Centro Motor) são colocados em uma situação de evolução em direção a um objetivo comum.
Com o desenrolar dessa etapa de desenvolvimento, pode ser introduzido o elemento de crescimento espiritual: a cumplicidade espiritual/esotérica, onde os antagonismos interpessoais da personalidade são colocados à margem a partir de um conjunto de experiências e iniciações místicas, secretas e/ou trabalhos comuns que visam desenvolver as funções superioras do homem onde os defeitos e qualidades do nível mesotérico, agora depuradas, tornam as pessoas capazes de projetar uma necessidade intrínseca, um desejo de crescimento espiritual nobre e bem mais abstrato. Caracteriza-se pela opção formal de aniquilação dos desejos da máquina em prol de um objetivo comum: a comunhão última com o Criador. Nessa etapa as técnicas do Centro Intelectual Superior são apresentadas e desenvolvidas. Esta fase relaciona-se com os homens número 7, 8 e 9.
A transição para esse nível depende que seja desenvolvida a capacidade de viver outras realidades, e aceitá-las como se fossem tão reais quanto esta realidade, aceita consensualmente como tal.
Este é um dos núcleos do trabalho com o Centro Intelectual Superior.
À esta técnica damos o nome de Câmaras Labirintinas e também relaciona-se com o Mundo Imaginal de Suhrawardi.
A diferença entre uma câmara labirintina puramente imaginária e uma câmara onde podemos interagir realmente, é que passamos a aceitar e a nos submeter a uma realidade maior e se estamos debaixo de um conjunto de leis mais abrangentes e sutis, isso nos dá um maior grau de liberdade. Porém isso deve ser vivido como uma realidade e não como uma fantasia. A realidade consensual que compartilhamos, é criada constantemente por nossas próprias fantasias. Somente quando uma realidade de um nível superior e por vezes, estranho ou no mínimo espantoso, se impõe sobre nós com peso e verdade, com uma qualidade intrínseca e indiscutível, podemos então dizer que estamos acessando níveis do Centro Intelectual Superior.
O Centro Intelectual Superior é caracterizado por conduzir o indivíduo para fora da criação, em direção à Origem dela. O indivíduo passa por um processo gradual que o leva em direção ao "não-ser", ou seja, todos os aspectos que ele confundia como sendo características do seu "eu" são retirados ou abandonados. Nesse momento, o indivíduo rompe suas barreiras que caracterizam sua individualidade e passa a sentir-se como sendo a própria criação. Ou seja, no núcleo do não-ser surge a possibilidade de "ser tudo". Nesse momento, novas potencialidades afloram e são vivenciadas como algo totalmente novo e desconhecido. Por isso esse nível é correlacionado com o mundo das potencialidades ou das "idéias" que antecedem a própria criação; neste nível estão todas as formas de existências possíveis ou impossíveis, que serão geradas ou não. Do aprofundamento da dualidade "não-ser" e "ser tudo", surge, aos poucos, o terceiro elemento, que relaciona-se com a própria experiência do Uno. Estas polaridades são vivenciadas como aspectos complementares e contínuos, e em sua máxima perfeição.
Portanto, o nível esotérico é o nível do conhecimento superior, que aparentemente vem de fora ou de "cima", mas que na verdade, é o nosso conhecimento, ou seja, é a recuperação de um conhecimento que existe dentro e fora de nós. Por isso o sufismo diz: a nossa função é fazer você voltar a ser aquilo que você sempre foi. Ou dentro do próprio Platonismo onde há a afirmação de que não adquirimos conhecimento mas sim, que reconhecemos algo que já sabíamos, como numa recordação de uma sabedoria ancestral que vive dentro de cada um de nós.
Podemos dizer que nesse nível passamos a ser capazes de acessar a Verdade maior; essa Verdade apresenta-se revestida da experiência da Unidade, como se finalmente, algo de uma esfera superiora e totalmente desvinculada das ilusões da realidade pudesse ser vivenciada. "Conhecer o segredo do destino é estar em paz. Pois isto significa estar consciente de que o universo aparente é inteiramente não existente, e que Deus é a Realidade por trás de todas as formas manifestas. A paz que esse conhecimento traz é como o das ondas retornando ao Oceano..." (Al- Ahrar citado por Shushud, mesma obra).
Com os três patamares da máquina biológica humana desenvolvidas (ou os nove centros), temos então o Trabalho encerrado. E é nessa fase que a Escola pode surgir.
A Escola nasce do centro isotérico. Este nível corresponde a uma total cumplicidade de todos que trilharam esse caminho; de uma forma que extrapola os limites de tempo ou espaço, todos os que fazem parte dessa linhagem voltam a estar novamente reunidos neste ponto. Aqui a perfeição atingida lhes habilita a concretizar a idéia original concebida para a humanidade. Por isso se diz que: 'nós existimos antes da própria Criação, nós bebemos do vinho antes da videira ter sido plantada'; tal estado de ser estava presente antes mesmo que a palavra 'Seja!' fosse pronunciada pelo Criador, antes que a criação existisse e é essa idéia que se manifesta nesses seres humanos transformados.
O estado é de total renúncia interna, de um completo abandono dos desejos da forma em direção a não-forma, em direção ao desejo último, à comunhão, em direção a realmente estarmos 'nas mãos de Deus'. Imbuídos agora de Sabedoria e Perfeição, todos os sacrifícios já foram feitos, e portanto, os indivíduos deste nível são capazes de estarem totalmente esvaziados de si mesmos e preenchidos pela própria Presença divina. Não há mais distinção de conhecimentos, conceitos ou práticas entre eles. Esse nível corresponde aos homens números 10, 11 e 12. Este é o nível dos Mestres ou Qtubs.
O surgimento de uma Escola no centro isotérico do Trabalho busca concretizar o potencial transformacional não mais apenas do indivíduo (apesar de inclui-lo), ou de um grupo mas também da coletividade, sociedade, pool genético e conhecimento humano em um novo patamar. Podemos dizer que a influência desses homens santos e profetas que viveram ao longo da humanidade, deixam uma espécie de marca na civilização humana, que mantém desperto o anseio do homem por transformação. Podemos afirmar que apesar de existir o impulso evolutivo entranhado no próprio código genético da humanidade, esse impulso é caótico e está sob as mesmas Leis do Acidente que permeiam toda a criação. O impulso que estes homens geraram (e continuam gerando) tem uma outra direção e visa outros propósitos, e está mergulhado na psique humana, direcionando-a de forma invisível ou oculta.
Atingir esse patamar implica em que as necessidades em termos de um equilíbrio energético na nossa esfera de realidade possam ser agora supridas. As forças que se direcionam ao caminho de ascensão no Raio de Criação podem agora se manifestar e o equilíbrio com as forças da entropia passa a ser possível, de tal forma que a criação continue se manifestando. Esse nível pode se materializar na liderança pessoal de alguém como Cristo ou Moisés, ou quando este nível de ser não se faz presente no espaço/tempo necessário, ele pode se manifestar como um movimento, uma idéia, um grupo de pessoas imbuídas de um pensamento, necessidade e objetivo comum. Nesse sentido temos a primeira grande divisão entre os frutos de uma Escola Conservadora e uma Escola Intervencionista, delimitando as linhas de atuação clássica de uma Escola, como dito acima.
Devemos refletir sobre as diferenças entre o que caracterizamos anteriormente como sendo os Homens Perfeitos e os Homens Justos. Os primeiros incluem os Profetas, espelhos perfeitos do Criador, aqueles que buscam a Presença Divina e isto lhes basta. Os outros, incluem os Santos, que dentro do Sufismo estão relacionados com os grandes Mestres, notadamente alguns dos Kwhajagans e serão eles que irão atuar através das Escolas. Existe uma história relatada por Abu Yazid Bistami que ilustra a diferença entre ambos. Depois de uma experiência mística muito intensa onde Abu Yazid foi conduzido até a Presença de Deus, sua visão ficou enevoada, pois diante de si ergueu-se um véu de areia. Então, quando a visão se estabeleceu, ele viu que aquela areia era a poeira sob os pés de Maomé. Então ele pode perceber que apesar de seu estado ser tão elevado, ele ainda o situava apenas aos pés da estatura de um Profeta: "Então eu percebi que o fim do estado dos Santos é apenas o início do estado dos Profetas; e para o estado dos Profetas não há fim". (Attar, Faradudin. 1966 Muslim saints and mystics. Arkana)
No centro isotérico deixa de haver a continuidade de qualquer tipo de desenvolvimento. Na realidade temos que fazer uma transição entre o homem número 9 e o número 10. E esta transição é a experiência final, a realização plena. Corresponde ao ponto onde o indivíduo atinge uma espécie de junção de tudo o que ele é e de toda sua trajetória e então, atinge a experiência do Absoluto (na medida de suas possibilidades) e esta experiência é revestida de um conteúdo que não pode ser questionado, onde não existe dúvida entre verdade e fantasia. No momento em que isso se transforma numa real experiência transcendente, então temos os Mestres da Escola.
O núcleo isotérico é o ponto onde não existe diferença de conhecimentos, conceitos, práticas, porque estamos na raiz original de tudo. Neste nível existe o acesso pleno às fontes de Sabedoria que permeiam a criação e que são sua herança. Os homens e mulheres que compõem a Escola terão agora capacidade de ouvir o chamado que é direcionado a eles para que possam atuar de forma adequada na realidade. Esta é a dimensão real do serviço, o momento onde as pessoas possuem a capacidade de perceber as necessidades reais do meio social e as habilidades para atuar de forma eficiente. É também nessa fase que existe uma real apreensão da atitude do sacrifício, onde os esforços são todos direcionados a um amor maior pela idéia geral que o Criador apresenta em relação à humanidade, idéia esta que estava presente no momento em que a humanidade foi gerada e permanecerá existindo para sempre, em busca de uma realização plena em todos os seres humanos. Esta idéia contém a própria Perfeição que cabe à humanidade e não existe Bem maior do que esforçar-se para expressa-la na realidade, sendo pessoalmente ou atuando no sentido de auxiliar os outros a atingir isto. O sacrifício aqui é portanto, não algo doloroso e sim glorificante pois preenche a vida de um propósito maior e objetivo, que tem muito pouco a ver com a visão limitada e fantasiosa do ego.
Será a própria Escola que definirá o tipo de trabalho a ser desenvolvido. Ela irá criar todo um contexto de novas experiências, técnicas, conhecimento, processos de comunicação para espalhar esse conhecimento no mundo e criar tudo de novo, os níveis exotérico, mesotérico, esotérico e isotérico que, por sua vez, gerarão uma nova Escola, sempre com o intuito de perpetuar a possibilidade da evolução da humanidade em graus crescentes de Sabedoria e união perfeita com seu Criador e assim perpetuar a manifestação do Bem na criação.
Nota final
Para finalizar esse estudo introdutório sobre o tema, torna-se necessário enfatizar que o conhecimento real por trás desses conceitos que se manifestam como Escolas e Mestres de Sabedoria é infinitamente maior do que podemos aquilatar apenas com nossas mentes ou através de estudos baseados meramente em informações. Tudo isso requer também, uma experimentação direcionada de forma correta e uma perseverança em termos do trabalho sobre si mesmo, até que todas as dimensões aparentes sejam vencidas e os véus finalmente retirados.
"A menos que o encantamento da existência seja quebrado O tesouro da realidade permanecerá fora de alcance. A realidade é o oceano, as palavras são meras miragens. Uma miragem não oferece nenhuma satisfação para aquele que está no oceano." (Jami)
Sugestões Básicas de Leitura
Bennett, J.G. Os Mestres de Sabedoria. Pensamento. Scott, E. 1995 O Povo do Segredo. IBRASA Shah, I. Os Sufis. Shushud, H.L. 1983. Masters of Wisdom of Central Asia. Coombe Springs.

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