Escolas de Sabedoria - parte1 - REV2
- Alexei Caio
- 11 de ago. de 2020
- 11 min de leitura
Atualizado: 17 de ago. de 2020
Observações fundamentais para a propagação/divulgação do material nos posts a seguir "Escolas de Sabedoria".
A origem deste material esta inserida numa apresentação em um contexto bem específico.
Por integridade minha faço menção desde contexto e por profunda gratidão à autora.
Fonte: Instituto Nokhooja
A humanidade tem sido conduzida Ao longo de um curso evolutivo, Através de uma migração de inteligências, E embora pareçamos estar dormindo, Existe um despertar interno Que dirige o sonho, E que irá eventualmente Nos conduzir de volta À verdade de quem realmente somos. Rumi
Introdução
Qualquer que seja a civilização ou época estudada, podemos encontrar vários mitos que afirmam que a condição humana, em termos pessoais, sociais ou coletivos, já apresentou-se sob uma forma mais harmônica ou perfeita, quase como se houvesse vivido numa condição de Paraíso, ao qual os seres humanos tentam sempre retornar, mesmo que inconscientemente. É como se dentro de cada um de nós houvesse constantemente uma afirmação ou certeza de que já vivemos em um estado mais elevado ou harmônico e que a própria realidade já esteve numa situação de maior perfeição.
A idéia da saída ou perda de um estado paradisíaco está presente nas várias culturas sob formas diferentes e adotar as linguagens particulares de cada uma delas. Porém sua presença é marcante. Podemos afirmar que isto faz parte do que é chamado do inconsciente coletivo e direciona a humanidade a manter acesa um tipo particular de esperança e de anseio por algo maior e melhor. Nem sempre existe um conhecimento consciente do que isto poderia vir a ser, mas sim, um tipo de impulso que constantemente movimenta o homem e conduz a civilização humana como um todo a evoluir. O impulso em direção ao progresso e crescimento é um reflexo desse anseio inconsciente que movimenta os seres humanos sempre em frente, numa espécie de busca por algo que geralmente, permanece difuso e incompreendido ou inconsciente, mas que impele o homem a movimentar-se em direção à busca por uma realização plena, de forma constante.
As Escolas de Sabedoria existem associadas a esse impulso. Elas têm como função básica permitir com que exista na realidade, alguns elementos chaves sempre presentes. Esses elementos cumprem pelo menos três funções básicas. Uma delas consiste justamente em manter esse "sonho" ou esperança vivos no coração e no inconsciente da humanidade como um todo. Para tanto as Escolas se esforçam em manter essa chama acesa, seja através da constante recordação e introdução desses mitos dentro das culturas humanas, através principalmente da tradição oral, da arte, dos ensinamentos filosóficos, das tradições religiosas, da importância conferida às vidas e obras dos homens e mulheres que atuaram como mestres ou santos ou profetas dentro de cada cultura, e de infinitas outras formas, sutis ou mais declaradas. Basicamente, esses elementos sempre despertam a crença em algo superior e mais próximo da perfeição, que faz parte da herança humana e que deve ser buscado e desenvolvido ao longo da vida, chegando muitas vezes a afirmar que não existe nenhum outro objetivo mais importante que buscar por isso.
A outra forma consiste em providenciar o conhecimento necessário aos indivíduos ou grupos de indivíduos que possibilite a eles atingir esse sonho. Existe todo um conjunto de técnicas, exercícios, literatura e outros materiais ricos e variados, adaptados aos vários momentos históricos que foram preservados pelas Escolas e que são disponibilizados nos momentos necessários. Esses materiais continuam sendo produzidos pelas Escolas atualmente (e provavelmente, o serão no futuro), e visam instrumentalizar cada ser humano e direcioná-lo a atingir o desenvolvimento pleno que cabe a ele.
A outra função básica da Escola é fazer com que elementos precisos que deflagram os processos associados à evolução do conhecimento estejam presentes na realidade quando eles forem necessários. Estes elementos podem e devem assumir formas totalmente diferenciadas, adaptadas ao momento, às idéias e necessidades presentes dentro de cada cultura em específico. Tais elementos poderão gerar movimentos sociais tão diferenciados como, por exemplo, a Renascença no século 14 ou, mais atualmente, a Internet.
É importante frisar que as Escolas de Sabedoria, portanto, estiveram por trás de muitos movimentos sociais, artísticos, filosóficos, religiosos e políticos ao longo de toda a história. Nas páginas que se seguem, daremos exemplos mais específicos. Por enquanto basta dizer que muito do progresso da humanidade como um todo é devido principalmente, ao trabalho e atuação de mestres e Escolas que existiram ao longo do desenvolvimento das várias civilizações.
Assim, as Escolas preenchem o vácuo que existe entre a "humanidade ideal" e a humanidade em um estado de imperfeição. Ou, colocando de outra forma, elas preenchem as necessidades da humanidade no sentido de conferir as respostas e caminhos que devem ser trilhados para que o sonho que a permeia se transforme numa realidade.
Geralmente, as idéias que permitem esse desenvolvimento passam por um período de efervescência, mas depois tendem a degenerar e se tornar estáticas e dogmáticas, quando passam a ser controlados por instituições ou outros grupos de poder. Essas idéias correm o risco de serem aprisionadas dentro de estruturas por demais rígidas, que limitam o indivíduo que se envolve com elas ao contrário de liberta-lo e permitir seu desenvolvimento. Existem vários exemplos de como isso aconteceu ao longo da história, mas nos basta citar aqui, as próprias tradições religiosas. É importante frisar que existem indícios de que as tradições religiosas são consideradas como sendo frutos do trabalho das Escolas de Sabedoria, e que inicialmente, elas foram fundadas dentro de princípios absolutamente elevados e promotores de desenvolvimento, mas que acabaram, pelo menos em seu aspecto mais externo, por se tornarem mais formalizadas e dogmáticas.
Devemos então compreender que as idéias e movimentos que essas Escolas geram apresentam uma evolução que nem sempre está totalmente sob o controle da Escola que os iniciou. No entanto, apesar do risco da idéia degenerar-se, ainda assim a atuação e modificação ocorreram quando foi necessário. O que aconteceu depois é secundário frente à necessidade que havia no momento preciso da intervenção e que foi suprida. E, além disso, novas atuações e propostas podem ser sempre criadas no sentido de redirecionar o processo outra vez para suas metas principais. Tudo isso ficará mais claro com o desenvolvimento do próprio texto, pois mais adiante daremos maior ênfase aos exemplos e detalhes de como as Escolas atuam. Agora, nosso foco deve ser compreender o conceito mais externo de Escola de Sabedoria e suas formas mais gerais e aparentes de atuação.
Devemos compreender que a busca pelas Escolas de Sabedoria sempre permeou a humanidade com um todo. Como já dissemos o trabalho dessas Escolas e as formas de relação que elas apresentam com os indivíduos que se associam com elas mudam muito por causa das necessidades de cada época, lugar e povo. E esta é uma das características principais de uma Escola de Sabedoria real. Ela se preocupa com o homem do momento atual, com suas questões, seu contexto político e social, seu desenvolvimento tecnológico e as idéias e crenças que o envolve. Apesar de preservar o conhecimento gerado no passado e utilizar-se dele freqüentemente, ainda assim, elas não fundamentam a totalidade de seu trabalho apenas nisto.
Atualmente, podemos encontrar muitas Escolas de caráter mais externo oferecendo vários caminhos de desenvolvimento para os seres humanos, especialmente geradas e associadas com a New Age. Essas Escolas visam trabalhar com pessoas que buscam algum tipo de apaziguamento e ajuda em vários níveis. Dentre esses níveis podemos citar, por exemplo, o apoio psicológico que pode ser suprido por permitir ao participante sentir-se fazendo parte de algo maior ou que lida com valores e necessidades que extrapolam os da vida comum e rotineira. Podemos citar também o estímulo emocional que os participantes podem sentir por passar a gozar de uma vida mais rica, com um número maior de conhecidos ou idéias estimulantes ou atividades que quebram a rotina ou que conferem algum tipo de alívio ou propósito. Os participantes podem também ser induzidos a acreditar que compartilham de novas idéias que os une, e ao mesmo tempo, os diferencia do restante da massa da humanidade. Ou seja, tais objetivos mais simples podem ser atingidos a partir de propostas também mais simples e externas, e existem várias dessas propostas sendo oferecidas e desenvolvidas atualmente. (ver bypass espiritual)
As pessoas que buscam esse tipo de proposta, por apresentarem necessidades mais superficiais, muitas vezes encontram o que buscam nessas Escolas e, portanto, o papel social que cabe a tais formulações é bastante importante e não deve ser negligenciado. Geralmente, as pessoas que se associam com esse tipo de proposta acabam se satisfazendo com a expansão da vida social que os laços entre as pessoas criam. Com freqüência, costumam fundamentar o trabalho em algo do tipo caritativo ou benemérito o que lhes causa um alívio em termos de suas necessidades e relações com a realidade. Geralmente também, essas Escolas mais exteriores enfatizam que deve haver um tipo de relacionamento mais fraternal entre os associados, mesmo que isso seja apenas aparente. São posturas comumente encontradas entre os indivíduos que fazem parte desse tipo de Escola, uma espécie de "mercantilismo", onde eles julgam que existe um tipo de troca, onde se eles fizerem "algo", um outro "algo" lhe será dado em retorno. Seus esforços se baseiam em imitar padrões que são reconhecidos e incentivados pela comunidade como um todo e, o que eles necessitam e anseiam atingir principalmente, é a aceitação por parte dos envolvidos na proposta, notadamente de seus líderes ou dirigentes. Tais Escolas são geralmente baseadas em ideais bem simples e "utilitários" tais como, orações, novenas, promessas, peregrinações, benemerência (quando existe um caráter mais religioso), ou algo do tipo mais mágico, como encantamentos, sortilégios, cura, poções, chás, ervas (quando existe um caráter mais esotérico ou de magia), etc.. Muitas também se voltam a cultuar personalidades importantes que fundaram o movimento ou a Escola, e se contentam em ler os velhos materiais que foram desenvolvidos e repetir as antigas práticas e rituais. (guruzificação)
Porém, o tipo de Escola citado acima não preenche todas as necessidades de todas as pessoas. Existem indivíduos que não se satisfazem com esse tipo mais limitado e superficial de trabalho. Suas necessidades vão além e os compelem a buscar por um treinamento que expanda suas perguntas, que os estimule com respostas mais elaboradas, que proponha testes e treinamentos complexos, que questione a realidade pessoal, o intelecto pouco desenvolvido, as emoções pouco trabalhadas, ou seja, que conduza o indivíduo a aumentar (pelo menos a princípio) suas dúvidas e angústia e não que as apazigúe. É característica marcante desse tipo de pessoa uma espécie de desilusão ou insatisfação para com a vida comum, mesmo quando essas pessoas são consideradas estáveis e bem sucedidas pelos padrões da sociedade. Tais pessoas possuem um tipo de inquietação que as conduz geralmente a serem capazes de tolerar uma série de dificuldades que as Escolas de caráter mais interno apresentam aos seus seguidores.
Entre as dificuldades citadas acima, podemos distinguir, em primeiro lugar, uma aparente falta de linearidade ou de ordenação dos materiais e experiências que são apresentados aos estudantes. Muitas vezes essa característica é confundida pelo principiante com uma falta de propósito ou de estruturação do conhecimento. Porém, como já dissemos anteriormente, as Escolas mais internas surgem justamente para questionar a estrutura formalizada dos dogmas e conceitos que permeiam a realidade. Elas partem do princípio que muito pouco pode ser desenvolvido realmente, se o indivíduo for limitado em termos de sua visão de realidade e possibilidade de atuação e interação com ela. Por isso, longe de aprisionar seus estudantes em comportamentos fixos e incentivados pelo grupo, elas induzem o indivíduo a esforçar-se para buscar novos comportamentos e atitudes, novas visões de mundo e isso só pode ser conseguido se cada participante é levado a descobrir suas próprias verdades e potencialidades através de uma ausência de regras fixas e definidas. Porém, isso implica em que cada estudante seja capaz de sacrificar seus preconceitos acerca de como deveria ser estruturada uma Escola de Sabedoria e então, aceitar participar do processo como ele lhe for apresentado. Isso não implica, porém, numa passividade por parte do estudante. É esperado que ele teste aquilo que lhe for oferecido. A atitude de testar o que está sendo oferecido habilita o participante a expor os resultados de sua experiência, de tal forma que, seu processo de aprendizagem possa ser redirecionado para aquilo que lhe é realmente necessário.
Além de sacrificar seus preconceitos, o indivíduo que busca uma Escola de atuação mais interna deve estar pronto para trabalhar por algum tempo de uma forma egóica e auto centrada. Ele vai precisar de um mínimo de tempo, estabilidade emocional e social, liberdade em termos de compromissos familiares, etc. para poder voltar-se para o centro de seu próprio ser. Se as condições são desfavoráveis demais, o trabalho se torna muito pouco produtivo e os avanços, muito lentos. Muitos indivíduos, dependendo do contexto em que eles estão vivendo, podem ser inclusive, chamados a "abandonar" a forma de vida que eles levavam, de tal forma que se abra um espaço real de oportunidade de trabalho sobre si mesmo, e de tal forma que mais tarde, a Escola possa recolocar esse homem agora transformado, mais uma vez cumprindo o papel que lhe cabe dentro da sociedade. Ou seja, neste caso, de novo, é exigida uma certa dose de desprendimento ou despojamento por parte do participante. Ele deve ser capaz de questionar suas prioridades e testar as novas direções que a Escola aponta. Por isso, desculpas comuns como "eu não tenho tempo", devem ser aos poucos questionadas, no sentido de se exigir que cada participante se torne mais eficiente no seu dia a dia e passe a questionar suas prioridades de forma a abrir espaços para as atividades propostas pela Escola. Se as dificuldades forem extremas, o indivíduo pode terminar por se afastar ou então, parar seu desenvolvimento em um determinado estágio e permanecer junto da Escola assumindo tarefas menores.
Assim, qualquer indivíduo que busque associar-se a uma Escola, principalmente se ela afirma ser uma Escola de caráter mais interno, deve perguntar constantemente se sua necessidade está sendo realmente suprida. Pois, o foco principal de uma Escola deve ser sempre o indivíduo e não a Escola em si. O desenvolvimento pleno das capacidades dos estudantes é o objetivo principal. Quando esse foco é perdido e a importância primeira passa a ser a estruturação da Escola, podemos afirmar que nesse momento, existe um risco de estagnação e fechamento do processo todo.
Tais Escolas apresentam linhas de pesquisa aparentemente bem divergentes, atuando de forma mais aberta, ampla e livre do que as estruturas dogmáticas. Elas podem desenvolver propostas diversificadas junto a seus discípulos, como por exemplo, estudos de Cabala, artesanato ou Quarto Caminho, e tudo isso cumpre o propósito maior da Escola e não há choques entre as diversas propostas. Ao contrário, todas elas tendem a ganhar um novo significado e importância dentro do indivíduo que as contempla. Tanto que é esperado que tal indivíduo termine por transcender a todas elas, justamente por conhecer a idéia maior que as originou. Ao invés de se aprisionar a elas, ele as justifica e abandona qualquer tipo de fixação estrita a elas.
E principalmente tais Escolas buscam explicar o significado maior do ser humano e seu papel na criação e não se preocupam em impor dogmas ou modelos externos. Assim, elas atuam no sentido de libertar os indivíduos e não aprisiona-los em propostas fixas e impostas de "cima para baixo". Elas acabam por fornecer várias respostas para a mesma pergunta, e mais, oferecem mais perguntas ainda para cada questionamento que o estudante traz, obrigando-o assim a extrapolar qualquer modelo conveniente e conhecido. Porém, como dissemos acima, poucos são os que estão dispostos a jogar esse tipo de jogo, onde não há regras externas, apenas se busca desenvolver uma verdade interna que nasce devagar baseada na própria experiência. Este processo pode vir a ser bem difícil e despertar muita insegurança, porém seus frutos e resultados são duradouros e comumente, são chamados de "transformadores" porque o indivíduo envolvido nesse tipo de aprendizagem apresenta modificações profundas e verdadeiras em sua estrutura de ser e não apenas substitui alguns comportamentos mecânicos por outros que o grupo privilegia.
Tais Escolas têm também como caraterística importante o fato delas refletirem dentro de si a estrutura da própria realidade. Elas induzem seus participantes a estarem bem informados sobre os acontecimentos atuais, sejam de que ordem for, desde política até ciência avançada. Elas os estimulam e viver no mundo e a usar as novas ferramentas tecnológicas. Elas os estimulam a conhecer a realidade o máximo possível, pois é apenas assim que cada indivíduo desenvolverá a capacidade de finalmente, compreender a realidade como um todo e ter as capacidades necessárias para perceber as reais necessidades e as formas de atuação que são mais eficientes. E, além disso, é dessa forma que se atinge a possibilidade de transcender a realidade quando chegar o momento em que isso for necessário. As Escolas Sufis afirmam que o sufi é aquele que está no mundo mas não pertence ao mundo. Ou seja, cada estudante deve conhecer a fundo a realidade na qual está inserido para poder viver a verdade de que ele é maior do que ela e que ele situa-se fora dela, numa outra esfera de existência. Tudo isso será retomado mais adiante quando falarmos dos níveis de desenvolvimento que cada estudante passa em seu caminho dentro da Escola.
Assim, ao se tomar contato com uma proposta que se afirma como sendo uma Escola de Sabedoria, o interessado deve levar em conta todos os pontos considerados acima. Deve checar a forma como essa Escola atua e também, seu próprio grau de necessidade. Deve ser capaz de abrir-se para conhecer os fundamentos da Escola de forma mais precisa, testar suas técnicas e fazer os esforços necessários para desenvolver-se o máximo possível dentro da proposta.

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