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Os textos aqui utilizados são releituras e/ou partilhas de outros textos e autores. Em alguns casos, tem minha contribuição pessoal. Se está disponibilizado aqui, com muita certeza tem meu olhar e meu acolhimento. Eu aproveito e muito o meu tempo para compartilhar coisas boas e acrescentando algumas coisas.

Outro ponto importante sobre a publicação destes textos é que são para uma auto-reflexão. Ver como o texto nos “toca” e desperta. É um lindo exercício de auto-observação e identificação.

Não são fórmulas de solução ou “receitas” de bolo para a respectiva “dor”. Existem, na nossa diversidade, diversas soluções para as diferentes dores para cada momento de cada um. ;-)

Existirão textos que apontarão para desconfortos maiores interiormente e que por inconsciência iremos projetar para fora. Peço que se observe e se trate o melhor possível. Todos estamos caminhando em nossas jornadas.

Também partimos da base de que não podemos saber o grau de dificuldade que o outro enfrenta ou está em seu momento de vida, nem da profundidade de suas feridas que têm relação ao assunto tratado. Tudo no seu devido tempo. Partimos da base também, que a outra pessoa provavelmente vai demorar a curar seu padrão (igualmente nós nos demoramos com os nossos) e que provavelmente, terá que fazer muitos alinhamentos/trabalhos, sendo mostrado uma e outra vez, quando ela repete seu padrão (sobre esse assunto pode-se chegar a acordos ao final da comunicação). Precisamos lembrar que possivelmente estamos lidando com pontos cegos, tanto da outra pessoa como com os nossos, e que isto leva tempo para ser processado.

Fiquem bem !

E a Vítima ? alguns olhares.

  • Foto do escritor: Alexei Caio
    Alexei Caio
  • 14 de dez. de 2019
  • 9 min de leitura

Compartilho algumas pesquisas minhas sobre este tema.


“O termo vítima vem do latim victus e victimia, "dominado" e "vencido". No sentido originário, vítima era a pessoa ou animal sacrificado aos deuses. Atualmente, a palavra vítima se estende por vários sentidos.” – Wikipédia


O complexo de vítima

Você já deve ter se deparado com indivíduos que se consideram vítimas perante toda e qualquer situação.

Pessoas para quem a vida “não dá certo”.

Se alguém foi traído, ela foi muito mais.

Se o país está em crise, para ela a situação está muito mais difícil do que para o resto dos brasileiros.

Se o amigo tem problemas familiares, com certeza, a família dela é a pior de que já se teve notícia.

Se existem problemas no trabalho, a culpa é do chefe ou de um colega que quer “se aparecer” dando ideias e criando novos projetos.

Se o casamento não vai bem, certamente, é por causa da mulher que não o ajuda em nada.

Se o relacionamento com os filhos não é saudável, é devido à incapacidade deles valorizarem todo o esforço que ela faz.

São pessoas que vivenciam esta situação, geralmente, são dependentes emocionalmente, sentem-se incapazes de gerenciar a própria vida e não se responsabilizam pelos seus problemas. (parecem criança chorando).

· Dependentes emocionalmente;

· Incapazes de gerenciar a própria vida;

· Não se responsabilizam pelos seus problemas (vida).

Invariavelmente, culpam o mundo pelas próprias dificuldades e descarregam sobre as pessoas mais próximas toda a responsabilidade pelo seu sofrimento ou a solução (terapeuta) deste mesmo.

É importante entender que o papel de vítima traz benefícios secundários. Isso quer dizer que, quando a pessoa se retira do protagonismo da sua vida, e culpabiliza os que estão a sua volta por suas dores, ela não precisa assumir a responsabilidade sobre suas dificuldades.

· Sair do protagonismo de sua vida; seja protagonista de tua vida

· Culpa os que estão a sua volta por suas dores; Antes de abrir a boca, se observe!

· Não precisa assumir a responsabilidade sobre suas dificuldades. Volte a assumir responsabilidade por tudo em tua vida

Dessa forma, ela deixa de encarar/observar suas fragilidades, evitando a dor que, naturalmente, faz parte deste processo.

Além disso, pessoas assim sempre encontram aquelas que se desdobram para retirá-las desse sofrimento (lembra a codependência da criança ferida), acabam por tentar suprir tudo o que a vítima diz que precisa, mas sem sucesso.

São pessoas que se abastecem da compaixão dos outros. Portanto, mesmo que encontremos soluções práticas para ajudá-las, estas pessoas nunca estarão satisfeitas. (ahhh criança ferida)

Tornando-se satisfeitas, os benefícios secundários desaparecerão, justamente o que a vítima não deseja.

Mas, apesar dos ganhos que a vítima pode receber por se posicionar dessa forma, o sofrimento de estar nesse papel é imenso.

Ela fica completamente vulnerável aos movimentos externos, pois depende inteiramente do que acontece ao seu redor. Sua energia é mínima; sente-se enfraquecida. O sentimento de tristeza e frustração é constante.

É importante dizer que as pessoas que vivem o vitimismo, geralmente, não têm consciência de que se comportam dessa maneira.

“Elas acreditam, convictamente, que suas queixas e reclamações são legítimas e dignas da piedade alheia.”

O processo de conscientização pode ser lento e doloroso. Mas é possível. Quando identificamos o vitimismo no outro, é importante não o alimentarmos com nossa compaixão e pena. (estabelecer limites claros e deixar muito consciente)

Quando percebemos isso em nós, é necessário questionar os próprios sofrimentos e verificar o quanto dessa dor é justificada.

Além disso, é essencial se perguntar:

“Quanto dessa dor é responsabilidade minha?“

Enquanto a vítima continuar culpabilizando o mundo pelas suas dores, dificilmente conseguirá resolver seus problemas. Viverá aprisionada e infeliz.


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O vitimismo manipulador

O vitimismo pode ser muito vantajoso.

Uma pessoa que é vítima de algo, de uma forma ou outra, acaba sendo poupada das críticas dos outros e conta com a compaixão e a compreensão de muitas pessoas, independentemente do que fizer.

Na verdade, aqueles que questionam as ações de uma suposta vítima podem até mesmo serem vistos como insensíveis ou desalmados.

O vitimismo é, em muitos casos, uma estratégia que traz mais benefícios do que problemas para a pessoa. (Por empatia buscamos ajudar as pessoas que se mostram vítimas de injustiça, abandono, rejeição ... etc).

Esta condição permite criar uma espécie de imunidade que faz parecer que tudo o que a vítima diz é verdade e que tudo o que ela faz é bem-intencionado.

Mas em alguns casos esse vitimismo calculado, seja consciente ou inconsciente, esconde uma chantagem.


As vítimas

Existem situações reais de vitimização. A pessoa pode passar por uma situação onde sofra um abuso ou um excesso de autoridade, onde não há nenhuma chance de reagir ou se defender.

Se alguém for assaltado na rua, por exemplo, a pessoa que ataca pode ter um poder que a vítima não pode enfrentar: pode ser uma arma, um uniforme, um cargo, etc.

Esse tipo de situação dá origem a uma condição objetiva de vitimização. Mas é uma condição passageira, que não deve ser usada como um rótulo que a pessoa leve consigo para todo lugar.

Depois de sair de uma situação de impotência concreta, continuar no papel de vítima é uma opção, não uma realidade definitiva.

Uma coisa é certa: a vítima exige atenção, cuidado, apoio e carinho. A pessoa precisa dessa dedicação e compreensão para sair do seu estado de choque e “vulnerabilidade”.

E isso é algo que não se discute.

Na verdade, estamos falando da vitimização como posição existencial.

É quando um acontecimento traumático se converte em uma espécie de carteira de identidade eterna.

A pessoa usa a sua condição de vítima, não porque foi testemunha de algo ou presenciou um crime, mas para ganhar privilégios que de outra forma não conseguiria.

É o tipo de pessoa que faz do seu sofrimento uma espécie de currículo cuidadosamente apresentado.

Em casos mais graves, as vítimas acreditam que isso lhes dá “carta branca” para odiar ou machucar outras pessoas.

Reconhecendo o vitimismo manipulador

Existem alguns sinais que nos ajudam a identificar quem se encaixa nesse círculo de manipulação e faz da vitimização sua forma de vida. Os principais são:

- A pessoa que faz uso da vitimização não fala diretamente o que quer, mas envia mensagens imprecisas na forma de queixa ou arrependimento.

Por exemplo, lhe dizem: “Ninguém sabe o quanto me custou chegar até aqui”. Então você não sabe se a pessoa quer seu reconhecimento, se está reclamando porque acredita que para você custou menos, ou se quer sua ajuda para algo em particular.

- Voce se sente meio culpado quando está com essa pessoa. Cada conversa que você tem com ela deixa a impressão de que você é responsável por algo, mas não consegue definir o que poderia ser. Sente uma tristeza ou um vago desconforto com você mesmo.

_ O vitimista é também receoso e desconfiado.

Com frequência ele alerta você sobre as más intenções dos outros. Usa o sofrimento do passado para justificar as suas maldades. E pode até acusar você de insensibilidade ou apatia se criticá-lo.

- É capaz de fazer grandes sacrifícios pelos outros, sem que ninguém lhe peça nada.

Quando uma pessoa apresenta estas características, estamos lidando com alguém que assumiu um papel de vítima perante a vida.

Certamente essa pessoa não se sente feliz por ter esse tipo de comportamento sem um significado real.

De qualquer forma, trata-se de alguém que não chegou a fechar o ciclo de sua experiência traumática. Ele precisa da sua compreensão, mas também da sua sinceridade.

A melhor maneira de ajudar alguém assim é dizendo carinhosamente e diretamente o que pensa da sua atitude. (colocando limites com amorosidade).

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A dica sistêmica de hoje é sobre uma postura que diversas pessoas adotam com frequência na vida e que trás muitos problemas e infelicidades para si e para aqueles quem as rodeiam: a de VÍTIMA!

Bert Hellinger tem uma frase que gosto muito sobre isso e que é mais ou menos assim:

“O papel de vítima é a mais refinada forma de vingança”.

E não é que (para variar) ele tem razão?

E por que esse papel é tão perigoso e danoso?

Porque toda vítima se coloca acima do bem e do mal, se coloca como uma coitada, como uma criança carente e birrenta que quer tudo do seu jeito, no seu tempo.

A vítima de plantão está sempre de consciência leve, pois se sente superior a todos os demais, especialmente em relação ao(s) seu(s) agressor(es).

Para ela, quanto mais “seguidores”, quanto mais atenção e mimo, mais ela alimenta a sua auto importância exarcebada!

Por isso é um papel tão tentador e tão utilizado por muitas pessoas mundo afora!

Quando algo de ruim acontece, como um acidente, um desentendimento sério que gera um divórcio ou mesmo uma morte, via de regra, a reconciliação se torna mais difícil não por quem deu causa, mas sim por aquele que se achou ou foi ofendido, justamente pelas razões que acabei de mencionar acima!

Mas, quando assumo a minha parcela de culpa pessoal, quando vejo o outro como um igual (ou seja, como indivíduo imperfeito que também sou) e não como menos, pior ou inferior do que eu, ganho força para sair da dor e do sofrimento que me foi causado e só assim posso viver mais em paz, tranquilo e deixar o outro em paz, também!

Não nos iludamos: nesse mundo NINGUÉM é melhor que NINGUÉM!

Todos somos IGUAIS (como seres humanos), todos temos o direito de errar e de acertar e todos temos o dever de arcar com a responsabilidade de nossos atos!

Se isso acontece, eu ganho, você ganha, todos nós ganhamos, e aí sim, a JUSTIÇA pode prevalecer e ser feita de verdade!

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O FASCÍNIO PELO PAPEL DE VÍTIMA

Por que razão é tão difícil abandonar o papel de vítima e, com isso, o sofrimento? Existem diversas abordagens para a sua explicação, todos os processos decorrem mais ou menos inconscientemente, uma vez que os limites são permeáveis.


1. O sofrimento tornou-se um sentimento a que a pessoa está acostumada e através do qual a sua vida se organizou. Este hábito é tão rotineiro que ainda que a pessoa sofra, ela pode sentir-se bem com ele. Para pôr fim ao sofrimento, exige-se uma mudança de hábitos. Esta mudança pode conseguir-se através de decisões conscientes ou ocorrências do destino.


2. Para muitas pessoas o sofrimento é a única possibilidade de se sentirem intensamente a si próprias: “sofro, por tanto sinto-me, logo existo”. O sofrimento converte-se na experiência mais intensa das suas vivências. Embora possa parecer contraditório, este paradoxo observa-se com frequência. Muitas vezes os pacientes queixam-se de uma sensação de vazio difícil de suportar depois de se ”terem despedido” do seu sofrimento.


3. O sofrimento recompensa, como no clássico caso de quem se beneficia através da doença. Enquanto se sofre, recebe-se mais amor, cuidado e dedicação. Através da doença, por exemplo um enfarte do miocárdio, conseguir-se-á ser mais importante. Tudo gira em torno desse acontecimento. (ganhos secundários)


4. O sofrimento eleva o sofredor a uma melhor posição. Porque ele sofre, sente-se numa melhor posição relativamente aos seus semelhantes e daí surge a exigência, que é inconsciente na maioria dos casos. Uma vez que essa exigência é inadequada, não chega a conseguir cumprir-se, motivo pelo qual o papel de vítima e de sofredor se reforçam. Expressões tais como “ninguém me compreende” ou “estão todos contra mim” são convicções básicas dessas vítimas “crônicas”, que permanecem cativas no círculo vicioso do sofrimento. Especialmente no cristianismo, o sofrimento tem para os outros uma grande importância: o martírio é notoriamente uma boa premissa para a santificação.


5. O sofrimento pode ser reconhecido socialmente e condicionar o sentimento de pertença a um grupo. A sociedade compadece-se superficialmente das “pobres mulheres abandonadas”, enquanto aos “homens abandonados” não se lhes reconhece socialmente o direito ao seu sofrimento. As “mulheres abandonadas” formam um grupo que se lamenta, afirma e motiva reciprocamente. Quando a mulher abandona o seu papel de vítima, deixa de pertencer a este grupo. Desta forma, e pese embora todos os aspectos de significação, também os grupos de auto-ajuda correm riscos. Frequentemente, a identidade do grupo ordena que somente se possa participar quando se sofre.


6. O sofrimento caracteriza-se geralmente pela passividade, portanto, deixar a posição passiva significa agir e passar do papel da vítima ao de sacrificador. Neste contexto positivo, ser sacrificador significa assumir uma responsabilidade e “entrar em ação”. Pude observar que os sofredores sentem uma forte inibição para colocar-se em ação, devido às implicações familiares procedentes de gerações anteriores (homicídio, desapropriação, etc.). Nestes casos, os sintomas são o fracasso e a falta de trabalho. Aferrar-se ao papel da vítima serve para “não chegar a ser assim, como os pais e os avós”.


7. O sofrimento pode ser mal interpretado e, dessa forma, restabelecer a própria inocência. Por medo a reconhecer a autoria, a pessoa refugia-se no papel de vítima e volta a ser aparentemente inocente. Como exemplo queria aqui mencionar o papel de muitas pessoas durante o III Reich, que depois da guerra tornaram ao papel de vítimas e “nunca tinham ali estado”. O papel de vítima aqui é quase um fenómeno de massas e foi, durante muito tempo, socialmente aprovado. Esta “falta de reconhecimento” da própria culpa provoca novamente o sofrimento das gerações seguintes.


8. Frequentemente, como compensação pela culpa “não reconhecida” dos sacrificadores em gerações anteriores, os membros da família subsequentes sentem-se responsáveis infundadamente. Estas implicações provocam uma persistência no papel de vítima. Por lealdade com as vítimas dos sacrificadores, sentem-se traidores quando abandonam esse papel. Assim que o amor pelo sacrificador ganhe espaço, poderá deixar-se com ele os factos que lhe correspondem, resolvendo-se dessa forma a compulsão para o sacrifício. Para os descendentes das vítimas vale a pena frisar que também eles permanecem no papel de vítima “por lealdade com os seus antepassados”. Os sintomas destes sofredores são similares, são formas graves de doença e depressão.


Ilse Kutschera e Christine Schäffler In “Enfermedad que Sana. Sintomas Patológicos y Constelaciones Familiares”. Alma Lepik Editorial.

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