A taça e o vinho
- Alexei Caio
- 16 de out. de 2019
- 2 min de leitura
Havia sim no começo dos tempos um vinho tão sutil e tão magnífico que não somente os humanos bem como os anjos e seres celestiais ansiavam, aspiravam em sorvê-lo. Sentir o embriagar deste vinho era e continua sendo o desejo de busca e luta destes, mais humanos do que os demais.
Para receber este vinho, uma taça foi criada, fundida. Cristalizada a fogo, e lindamente ornamentada no mais transparente cristal, surgida do fogo purificador e da matéria colhida na permissão da natureza.
Na presença desta taça, o vinho se avermelha, enrub

esce, solta o mais sutil perfume, reflete a face de quem a contempla. Nada como um ser feito plenamente ao outro. A potência de existir na presença um do outro é inegável, um existe enquanto o outro aspira a existência, Um acolhe a não-forma do outro.
É uma música a ser escutada por poucos ou por aqueles que podem e querem escutar.
E assim foi feito no começo dos tempos, a taça recebia toda a potência desse Vinho, acolhia sua vontade desesperada de fluir, e guardava num átimo de tempo um pouco do seu aroma e sua cor. E o vinho descansava seu desespero aqui.
Quando o começo dos tempos se foi, a taça recebia outros líquidos, outros intrusos que não valiam a sua existência.
Sua criação foi diminuída, quase esquecida. Com saudade do sussurro, do rubro, do perfume.
E é essa saudade do reconhecimento da taça magnificamente fundida somente para, e do vinho sutil, fermentado, colhido que cria essa dor. Desesperador, saber que um dia foi e que hoje somente a saudade recobra a possível lembrança dessa união.
E com a graça de algo maior, a lembrança diminui a distância, cria trilhas nessa saudade que sim merece ser atendida.
E a taça lá existente para outros, anseia ser completa, pelo vinho sutil, que um dia já o fez, e que a cada novo amanhecer, deixa inevitável essa união, esse reencontro." AAC
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